Kerley Carvalhedo

Vai uma faxina aí?

Quem já me visitou sabe que estou sempre mudando as coisas de lugar, literalmente. Não suporto ver a vida sem movimento. Em casa, onde é meu local de trabalho, mudo tudo: quadros das paredes, objetos decorativos, abajures até os livros de uma prateleira para outra.

Quem já me visitou sabe que estou sempre mudando as coisas de lugar, literalmente. Não suporto ver a vida sem movimento. Em casa, onde é meu local de trabalho, mudo tudo: quadros das paredes, objetos decorativos, abajures até os livros de uma prateleira para outra. Os porta-retratos estão com novas fotos, prefiro assim. Nada de para sempre. Cada dia crio, transformo, mudo algo. Quem não abre mão de coisas inúteis, não sabe o prazer que é juntar a montoeira de velharias e jogá-las no lixo ou doá-las.

Outro dia resolvi mandar para o lixo algumas tranqueiras que andavam ocupando espaço no meu escritório. Saí catando cartas, recibos, cartões telefônicos, contas de luz e mais um bocado de achados, quase da pré-história. Juntei e levei direto para o descarte. Fiz uma pilha de livros que nunca li por falta de tempo. Doei. Outra voltinha e arranquei do guarda-roupa peças que parecia ter usado em outra encarnação. Depois de toda essa tralha posta fora, ou colocadas em lugares diferentes, senti os pensamentos se organizarem também. Não tenho TOC, mas isso já é um sinal de alerta.

Quando a mudança é externa, é difícil desapegar-se dos acúmulos que fazemos em nossa trajetória de vida, basta um arrastãozinho daqui, outro dali para começar a ouvir o afeto dizer “não”. Lançar mão das coisas que custou esforço para tê-las não é tarefa tão simples, porém é preciso exercitar essa capacidade para colocá-la em prática. Somos acostumados com a permanência, qualquer mudança vira um sofrimento em grande escala. Mudar é indispensável. Mudar de pensamento, de amor quando não estiver sendo recíproco. É necessário alternar algumas amizades. Deixar ir quem só ocupa espaço e tempo, esses trapos a gente os substitui ou joga fora de vez. É preciso mudar de direção, de time, de caminho. Para encontrar o destino verdadeiro, é obrigatório arriscar, aceitar a perda. Não ter medo da mudança é fazer da vida um espetáculo. A vida acontecer das mais variadas formas quando aceitamos mudança. Mudar é avanço. É preciso ter coragem e determinação para jogar, trocar tudo que não serve mais. A vida só não muda para aqueles que pararam de viver.

Imagem/Pexels