Kerley Carvalhedo

Minha primeira tatuagem

Fiz minha primeira tatuagem aos dezoito anos de idade. O problema não era fazer tatuagem: onde fazer que era minha preocupação. Sabia que era definitivo desenhar no meu corpo, então tinha que tatuar de acordo com minha personalidade para não me arrepender depois. No dia marcado pra fazer a minha tatoo, já dentro do estúdio, desisti.

Fiz minha primeira tatuagem aos dezoito anos de idade. O problema não era fazer tatuagem: onde fazer que era minha preocupação. Sabia que era definitivo desenhar no meu corpo, então tinha que tatuar de acordo com minha personalidade para não me arrepender depois. No dia marcado pra fazer a minha tatoo, já dentro do estúdio, desisti. Customizei vários desenhos e não fiz nenhum. Voltei no dia seguinte mais tranquilo e fiz algo que tivesse significado forte para mim. Há alguns anos, a tatuagem era considerada marca registrada de um marginal, bandido, marca da besta. Era sinônimo de gente que não presta. Qual foi a importância de eu ter tatuado algo em meu corpo? Nenhuma para as outras pessoas; a mim teve. Quando as pessoas me perguntam se dói, respondo: “Mas é claro que dói”. Porém, dói menos que tatuar e nutrir uma mágoa no coração, menos que carregar uma vontade de querer e não poder. Dói menos que um amor traído, menos que o desejo proibido dos amantes. Dói menos, muito menos que qualquer sentimento dilacerador no peito.

Dói, mas logo passa. O que dói mesmo é o arrependimento de não ter feito. Se eu faria outra? Cá entre nós, depois da primeira, fiz mais cinco, foi menos emotiva comparada àquela. Tatuagem será sempre uma marca pessoal, uma maneira de dar significados aos nossos sentimentos, é um jeito de deixá-las numa forma física. Seja lá o que for fazer, faça com muito cuidado para não se arrepender depois. De uns tempos pra cá, tudo está meio pejorativo; uma coisa significa outra, uma resposta autêntica é sinal de agressão; uma vontade é mal interpretada, uma tatuagem é marginalizada. A maioria das pessoas espera o tempo certo para tomar alguma atitude na vida. Se não for por vontade própria, é melhor não fazer. Construa sua própria identidade, fuja do modismo; não se obrigue a fazer coisas que não estão em seus planos, não se renda à patrulha momentânea. Faça a coisa certa, só não tatue em seu coração mágoas, tristezas, ódio, angústia, amargura, desprezo, ressentimentos, medo, orgulho, culpa, vergonha, complexo de inferioridade e o que mais aniquila o ser humano: o preconceito.

Imagem/Pexels