Kerley Carvalhedo

Bilhete maldito

Encontrei um bilhete no meu portão, igual aos que o correio entrega, mas não era enviada do correio − foi escrito a punho. O bilhete portava uma mensagem que dizia: “Muito obrigado, amigo, pela força que me destes quando eu mais precisei”.

Encontrei um bilhete no meu portão, igual aos que o correio entrega, mas não era enviada do correio − foi escrito a punho. O bilhete portava uma mensagem que dizia: “Muito obrigado, amigo, pela força que me destes quando eu mais precisei”. Não havia nome, data, nem mesmo a escrita parecia com a de alguém que conheço. Eu estava aqui lembrando algo parecido que aconteceu há alguns anos. Depois do café da manhã, fui até o portão para verificar a caixa do correio. Não havia nada. Apenas um bilhete com uma frase sem sentido e sem nome. Não era de agradecimento, era frase de alguém desequilibrado emocionalmente. No dia seguinte, no mesmo horário, fui novamente ao portão fazer o que faço rotineiramente e lá estava mais um bilhete com uma frase totalmente desconexa da anterior. Não me preocupei, tenho amigos idiotas que eram capazes de fazer isso ou coisa pior para me assustar. Terceiro dia, o maldito bilhete estava lá como se alguém quisesse me enlouquecer – se a finalidade fosse essa, já estava conseguindo, tudo me afeta facilmente. No quarto dia, gelei quando de longe vi o bilhete caído no chão, imediatamente peguei o telefone e comecei a ligar para os meus amigos zueiros:

— Matheus, eu já sei que foi você, pode parar com isso!

— Do que você está falando?

— Guilherme, não adianta negar, eu já sei que é você que está fazendo isso.

— Isso o quê, Kerley? — Tchau, Gui. Já sei quem foi.

— Oi, João, não estou gostando da brincadeira imbecil. Eu sei que é você que está colocando esses bilhetes infernais para me atormentar.

— Você está bem, Kerley, ou tá ficando louco?

Acho que eu estava paranoico mesmo. Fiz uma breve investigação para descobrir o autor daquela brincadeira de mau gosto. Chamei alguns amigos e contei o que estava acontecendo, mostrei todos os bilhetes na tentativa de juntar e formar um texto, nenhuma das frases tinha nexo uma com a outra ou formava uma lógica.

Resumo da história: Foram 21 dias de pura adrenalina ao encontrar aqueles bilhetes detestáveis. Não sei quem foi o idealizador da brincadeira. O mais assustador foi encontrar o último bilhete: não continha nenhuma mensagem, estava vazio, em branco. Fiquei ansioso e aflito em querer saber o que viria na manhã seguinte. E para minha surpresa, não veio nada. Quem mandou as correspondências? Acredite, até hoje não descobri.

Imagem/Pexels