Seguir um caminho ao contrário do mundo é transgredir. Foi isto que Ney Matogrosso fez: transgrediu. Em tempos temidos, veio contrariando toda a elite militar. É considerado por muitos uma subversão, mas, pensando bem, foi mesmo um sujeito com muita postura que soube se sobressair nas décadas de 70 e 80, durante o regime militar. Poderia começar falando do seu estilo próprio de se vestir − foi um mestre em seus figurinos, apaixonado por luzes. Muitos o consideraram careta. Prefiro considerar uma maravilha. Ney Matogrosso não tem tabus para falar na mídia sobre assuntos ainda considerados invioláveis.
Inspirado em Carmem Miranda, o artista se reinventou de todas as formas com performance original, dono de uma voz inconfundível. Isso ainda é pouco diante do que Ney Matogrosso é. Um artista muito diferente − ousado e inventário. Que provoca incômodo em muita gente que não conhece a boa música. Ney atravessou gerações com suas músicas exóticas, românticas, tristes, alegres e malucas, que certamente são um convite para dançar.
Está na cara que Ney sempre foi um homem muito racional, sabendo definir bem o que queria. Fora dos palcos, é tímido, distraído, lunático −, mas também conhecido pelo seu lado irreverente − violador de regras − deturpador. Ney − o macho e fêmea. Ney – o demo. Ney era invalidado por ser originalíssimo, porém conquistou uma legião de fãs, não só pelas suas músicas, mas pelo seu estereótipo pra lá de artístico. Em entrevista, disse: “Eu acho careta mesmo é uma Lady Gaga copiar uma Madona. Pode até canta melhor, contudo não deixa de ser uma cópia”. Ney é um exemplo de reinvenção. No final, é isto que importa: se sobressair num mundo onde todos parecem iguais − de modo alienado. Precisamos ser cada vez mais originais sem precisar copiar tanto o outro.
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