No mês passado, recebi um telefonema de uma amiga me chamado para sair. No horário marcado, fui buscá-la em sua casa e adivinhe: ela ainda estava descabelada, enrolada a uma toalha, sequer tinha levantado do sofá. Pediu para eu entrar, sentar e esperar enquanto tomava um banho rapidinho. Foi o que ela disse: “rapidinho”.
Essa agilidade dela me custou horas. Sentei no sofá e fiquei aguardando ela testar minha tolerância. O tempo que fiquei esperando dava para assistir a todos os filmes e seriados que estivesse passando na tevê. Demorou tanto que pensei: “Deve ter morrido de um infarto fulminante dentro do banheiro e nem a ouvi pedir socorro”. Mulheres e seus processos de montagem: cabelo, roupa, sapato, maquiagem, perfume, joias. Ufa. E olhe que ela nem tinha saído do banho ainda. Quanto mais tempo ela passava no banheiro mais curta minha paciência ficava. Peguei lápis, papel e escrevi um bilhete com a seguinte frase: “Fui, amor”, deixei o bilhete no sofá e saí.
O tempo que ela gastou no banho foi o de jogar uma partida de xadrez na casa do meu outro amigo. Já estava cônscio que o nosso passeio não ia rolar mais, foi quando a histérica me liga desesperada, aos berros, perguntando onde eu estava. Ela tinha lido o meu bilhete, mas só ligou porque tinha desistido de sair. Motivo? O vestido que ela iria usar estava emprestado para a prima e não se lembrava desse detalhe. Pediu desculpas e desligou o telefone. Eu já estava longe mesmo, não fez nenhuma diferença.
Dias depois, encontro a surtada no parque fazendo caminhada, e, durante o trajeto que percorremos juntos, me contou que o bilhete que eu havia deixado no sofá foi lido por sua mãe assim que voltou de viagem. O bilhete ainda estava lá abandonado. Surtou. Acredite se quiser, mas aquele bilhete deu a maior confusão. Imagine a lerdeza da pessoa que nem se deu ao luxo de recolher o bilhete. Foi aí que o pior aconteceu: sua mãe lhe fez um longo interrogatório como se ela fosse condenada à morte caso não confessasse a verdade. Tudo isso por um mero bilhete esquecido. Coitada da pobre criatura. Sua mãe perguntou-lhe quem era o dito cujo que havia dormido com ela e deixado um bilhetinho escrito:
“Fui, amor” ao sair.
Queria saber detalhes: nome, idade, cor, altura. A tentativa frustrada de explicar a situação só piorava cada vez mais. Tudo se normalizou depois de eu ir até à casa dela e dar explicações do tal bilhete. Óbvio que a mãe dela não se convenceu muito, mas tudo ficou bem. Moral da história: Nunca deixe um bilhete dando bobeira por aí, nunca se sabe quem é o importuno que vai ler a mensagem.
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