Kerley Carvalhedo

Anacrônico

Parabéns aos inerrantes que estão em total perfeição. Parabéns aos infalíveis, aos insistentes, donos da verdade. Parabéns aos que não se apegam a nada.

Parabéns aos inerrantes que estão em total perfeição. Parabéns aos infalíveis, aos insistentes, donos da verdade.

Parabéns aos que não se apegam a nada.

Parabéns aos que não sentem tristezas, aos que vivem sem amor, aos inflexíveis.

Parabéns aos que conseguem viver sozinhos, não por falta opção.

Parabéns aos que não vivem sem o digital, aos internautas, aos imóveis que não se permitem mudar uma vez ou outra nesta vida.

Parabéns aos que conseguem carregar por tanto tempo uma mágoa, mas que não deveria.

 Parabéns aos que conseguem ser grosseiros com as pessoas, aos que conseguem ignorar os sentimentos.

Parabéns aos que vivem de boicotes o tempo todo, aos que não vivem sem criticar tudo.

Parabéns à patrulha, porque eu ainda sou analógico, ainda gosto de andar de bicicleta, gosto de sair e andar sem direção. Porque ainda planto flores, ainda gosto de receber cartões, amo tomar banho na chuva.

Ainda sofro por amor, gosto de olhar no fundo dos olhos e de me apaixonar. Gosto de gente.

Ainda perco a razão em troca da emoção, sou enganado ainda muitas vezes, sou ingénuo e ainda tenho medo da solidão. Ainda desisto fácil de coisas muito complicadas demais, ainda erro, ainda choro, ainda me entristeço, ainda valorizo os sentimentos.

Ainda dou papo a quem não conheço, me arrisco em novas aventuras, ainda prefiro a segunda-feira invés ao domingo.

Ainda gosto de sentir a liberdade de braços abertos.

Ainda gosto de ouvir o barulho do mar, aprecio o silêncio da noite, gosto de sentir a brisa, o cheiro de café fresco no ar.

Ainda sou nostálgico, mas me reinvento o tempo todo. Ainda admiro Elis Regina, amo Caetano Veloso, sou fã de Cássia Eller, danço Djavan, respiro Ney Mato Grosso e choro Charlie Brown Jr. Sou completamente apaixonado por MPB.

Ainda gosto ver álbuns de fotos antigas, de cuidar e ser cuidado, ainda gosto de viajar. Amo a vida e ainda acredito no amor. Ainda sou humano.

Imagem/Pexels