A primeira vez que alguém me disse “eu te amo”, caí na gargalhada. Repeti a frase aos prantos. Em qualquer demonstração de amor era extremamente difícil, verbalizar “eu te amo”, quase impossível. Temos resistência a tudo o que é novo. É normal da espécie. Minha mãe tinha linguagem própria para dizer que amava alguém, sempre soube falar isso muito bem, sem precisar usar uma única palavra. Sua responsabilidade e o cuidado com a família diziam mais do que se tomasse mão de mil palavras.
Cresci achando arriscado demais dizer “eu te amo” sem que isso fosse verdade. Perdi uma namorada por não dizer um “eu te amo” em palavras. Ela me disse: “Eu te amo”; respondi: “Gosto muito de você”! Depois dessa cena, nem preciso falar o que aconteceu. Porém, era o máximo de palavras que eu tinha acesso naquele momento. Não havia mais uma palavra sequer do que aquela frase no meu resumido vocabulário sentimental.
As experiências nos moldam. Minha mãe, que antes era áspera e grossa, agora diz “eu te amo” até para o vento. O menor sinal de afeto que demonstram por ela, já é correspondido. Para mamãe, virou hábito dizer “eu te amo”. E, pasmem, acabei aprendendo com seu exemplo.
Fronteiras, antes intransponíveis, hoje são rompidas facilmente sem restrições. Sem tabu, solto um “eu te amo” com a mais naturalidade. Aceitar o amor em suas várias linguagens é sinal de sabedoria e inteligência. É a garantia da boa convivência. As nuances do amor podem vir em um abraço. E o que dizer de um: “Você está bem?” ou “Se cuida!”
O “eu te amo” vai além de pronunciar essas três palavrinhas, além de presentes trocados. O “eu te amo” pode estar escondido entre um olhar e outro, um gesto singelo acompanhado pela leveza e a sintonia de momentos oferecidos pela vida. Às vezes, até uma escolha improvável é um modo de se dizer que ama alguém. O uso da expressão “eu te amo” não diz tudo, contudo o amor – com certeza – tudo diz.
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