“A impressão que eu tenho é de não ter envelhecido embora eu esteja instalada na velhice. O tempo é irrealizável. Provisoriamente, o tempo parou pra mim”. Esse é um trecho de um livro de Simone Beauvoir.
Você já parou para pensar como você será quando for um setuagenário? Não querer ver as rugas aparecerem na sua pele, pode ser algo quase impossível depois de certa idade. De um jeito ou de outro, elas vão aparecer e deixar marcas a fim de mostrar que o tempo por ali passou. A menos que você prefira optar pelas “senhoras plásticas”; já, nesse caso, nada contra, mas seria visível a empáfia da sua parte e a preocupação de não aceitar a velhice. Vou te dizer uma coisa: nós vivemos para enrugar.
Esses dias fiz uma visita à casa da minha vó e pude ver o quanto o tempo passou por lá. Muitas coisas mudaram, e outras ainda resistem ao tempo, mas a velhice, ah, essa é inevitável. Os cabelos brancos e pele cansada se apoiam na confiança de quem soube viver, mas que um dia envelheceu. É triste ver vovó quase aos cem anos de idade, morando sozinha, sentada a uma cadeira de balanço olhando para o além, esperando os dias atravessarem. Nesses últimos anos, sua companheira fiel tem sido a bengala que a carrega consigo por onde anda.
Sentado em sua cadeira de balanço, pude refletir um pouco mais sobre a velhice. Na juventude, esse tempo é uma incógnita, tudo é tão incerto que preferimos nem pensar em um futuro distante. Tudo é muito breve. Chegam os filhos, daqui apouco os netos, bisnetos e por aí vai.
Distante do estereótipo da adolescência, vovó olha no espelho o rosto enrugado, a pele flácida, os cabelos nevados pelo tempo, lembra-se do rosto lindo que um dia foi parecido com a porcelana. O que restam são os olhos azuis e muitas lembranças de um tempo que jamais irá voltar.
“O segredo de uma velhice agradável consiste apenas na assinatura de um honroso pacto com a solidão”, foi o que li no livro de Gabriel Garcia Márquez, em Cem Anos de Solidão. Pior que a velhice é a solidão infinda de dias e horas que parecem ser eternos. Bem diferentes dos dias da juventude que passam como chuva de verão. Quando medimos o tempo, sentimos o medo eminente da velhice lambendo o resto da nossa existência.
Nossa vontade é que o tempo retarde, mas nada disso acontece. Poderíamos fazer muitas coisas que ainda não fizemos, porém, o tempo é cruel com nossa embalagem “corpo”. Pensando em tudo isso, recordei da célebre frase do nosso queridíssimo Fernando Pessoa: a vida é breve, a alma é vasta: ter é tardar! Envelhecer pode ser assustador, mas nunca deixou de ser uma grande arte. Aos que conseguem chegar lá, é, de fato, uma dádiva.
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