Kerley Carvalhedo

Não tem erro

Faltavam algumas horas para eu embarcar num voo que ia de Curitiba a Belém do Pará. Deixei o hotel para aproveitar o tempo livre. Logo à frente do hotel, perguntei a um senhor onde ficava a livraria mais próxima. Ele respondeu: “É só seguir reto e vire à primeira esquina, depois à direita; não tem erro!”

Faltavam algumas horas para eu embarcar num voo que ia de Curitiba a Belém do Pará. Deixei o hotel para aproveitar o tempo livre. Logo à frente do hotel, perguntei a um senhor onde ficava a livraria mais próxima. Ele respondeu: “É só seguir reto e vire à primeira esquina, depois à direita; não tem erro!”

Para quem já conhece o lugar não tinha mesmo, para mim foi como andar num labirinto por quarenta minutos. Certamente em minha lista de viagens não entrará mais o item “visitar uma livraria”. Comprei o livro que eu procurava e saí correndo; estava atrasado para pegar um taxi e ir direto ao aeroporto. Eu parecia um fugitivo correndo com o livro na mão, e, o que era para ter sido uma simples voltinha, tornou-se um desastre. Nada pior poderia me acontecer naquele momento: entrei no hotel errado e só percebi quando estava no hall. Perdi meu voo. Tive que aguardar e marcar o próximo.

Ninguém passa a vida contando com a sorte e muito menos com um sorriso no rosto nessas ocasiões. “Não tem erro” é uma expressão aparentemente tranquilizadora, nem sempre é. Talvez não houvesse o erro se prestássemos mais atenção aos pequenos detalhes que nos cercam. O erro não está escancarado por aí, ele fica escondido no lugar mais discreto.

O possível erro pode estar oculto na esquina, no conselho que parece sensato, pode estar num abraço maléfico, numa conversa mal intencionada, em qualquer parte. Só basta observar atentamente. Diante das sucessões da vida não percebemos os erros que praticamos. Essa transição pode parecer simples, contudo esconde grandes desafios. Por segundos, uma morte pode ser evitada. Uma palavra pode não ser dita. Uma paixão adiada. Como não cometer erros? Não existe a tal fórmula mágica. Até mesmo no amor podemos errar. Amar significa correr o risco de poder fazer as coisas mais loucas e bonitas darem errado. O jeito é seguir em frente e não ter preconceitos, pudores ou medos de ser reprovado. Ninguém está livre do erro, muito menos do julgamento.

Ser feliz é aceitar que o erro faz parte da natureza humana, sem abrir mão de viver a vida como ela é. Aprenda a lidar com a pressão, o medo e a insegurança. Um dia, a gente aprende a não dobrar a esquina errada. Siga o caminho, fuja dos atalhos; pequenos erros podem ser a causa de grandes catástrofes. Não aprendi como não errar, pelo menos agora não fico batendo pernas à toa antes de voltar para casa.

Imagem/Pexels