Duas amigas se encontram no shopping. Um convite para um café, e, ali mesmo na praça de alimentação, uma delas resolve colocar o papo em dia.
— Oi, querida, como você está?
— Ah, eu estou ótima! Lá em casa todos estão bem, inclusive a Nina, minha gatinha; ontem teve cinco filhotinhos. Você não quer levar uns pra você? Adoro gatos, mas a casa está ficando cheia de pelos por todos os lados, Juliana é alérgica, você sabe, né? Fora isso, tudo está ótimo!
— Que pena, amiga, bem que eu queria, mas não posso. Já tenho animais demais para cuidar e não tenho tempo. E por falar em cuidar, como vai o Jorge?
— Ah, o Jorginho? O Jorginho está bem. Quer dizer, mais ou menos bem. Esses dias ele chegou em casa dizendo que tinha terminado o namoro com a filha da perua lá do prédio − eu fiquei tão feliz. Já basta a mãe dela que anda contando para o mundo todo que meu marido queria levá-la ao motel. Você acredita nisso?
— Que absurdo, amiga! Imagina seu marido se envolver com aquela mulherzinha horrorosa, cheia de celulite.
— Pois é, voltando ao assunto do Jorginho, como eu estava falando… Você soube que esses dias ele foi preso com aquele amigo dele, filho da Laura, lembra?
— Meu Deus! Lembro, sim, mas o que houve?
— Então, outro dia o coitado do Jorginho foi buscar o filho da Laura na boate, ligou dizendo que estava bêbado e não podia dirigir, mas, enfim, resumindo a história: colocaram dez quilos de maconha no carro do meu filho, rasgaram o estofado do banco e esconderam quarenta mil reais. Não deu outra: prenderam o meu Jorginho. Eu tive que pagar fiança para liberarem meu menino. Juro por Deus que ele não tem nada a ver com isso. O pobrezinho passa o dia inteiro dormindo, agora só sai à noite para ver os coleguinhas dele. Eu deixo, sabe? Agora ele já é maior de idade, mas fora isso está maravilhosa minha vida.
— Nossa, quanta crueldade dessa gente. Mas cá entre nós, aquela vez que ele atirou na polícia não foi culpa dele? Ou foi?
— Amiga, vamos mudar de assunto, pois com o Jorginho está tudo ótimo. O problema agora é com o Lúcio, que me deixou desapontada na semana passada. Cheguei em casa e lá estava ele com a perua do 105 na minha cama, mas negou tudo. Ando tão preocupada, mas, fora isso, está tudo bem.
— Essas vizinhas são indecentes. A gente não pode piscar o olho que elas se oferecem para o marido da gente, né, amiga? Mas e o Lúcio já removeu a tatuagem íntima que ele tinha?
— Como assim? Quem falou para você desta tatuagem? Não me diga que é o que estou pensando?
— Amiga, o papo está bom, mas agora tenho que ir mesmo. Sua vida está maravilhosamente bem. Fora esses detalhes está melhor que a minha. Beijos, queridinha!
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