Há anos que espero um Natal diferente. Deus é testemunha que não tenho complexo de saudades, é que não vejo mais o espírito natalino com os mesmo olhos, muita coisa mudou. Nem vontade tenho de decorar a casa para a chegada desta data. O único enfeite é um boneco de neve feito de feltro que já faz parte da decoração há pelo menos meia década, e um pisca-pisca com algumas lâmpadas queimadas.
Andando pelas ruas, vejo as vitrines, as ruas e avenidas enfeitadas, e ainda sim é um Natal triste, e posso legitimar meu desgosto e desafeto por este profano produto que virou comércio. Já tive Natais em profunda solidão, longe de casa, contudo, não foram Natais tristes como os de hoje.
Passei um Natal preso num aeroporto por causa do mau tempo, assim como passei no sótão de casa, quieto —, como deveria ser — meditando em profundo silêncio, de acordo com a tradição. Jesus nasceu num grande silêncio quebrado pelos anjos que em coro cantavam a Deus — anunciando a chegada da Paz entre os homens de bom querer.
No fundo, a época mais esperada do ano, agora tem mais clima de pesar ao invés de júbilo, isso porque reunir a família em torno da mesa não é mais privilégio de todos — aliás, — nunca foi, porém, na atualidade é um mérito de poucos, pois o que restou, foram as cadeiras vazias em volta das mesas, e um silêncio instalado no recinto.
Na noite de Natal nem todos terão mesa farta, embora uma pequena parcela se sirva de banquetes reais, outros de “carne folheada a ouro”. Na contramão, muitos terão que contar com a sorte a e generosidade das sobras da ceia dos nobres.
Depois da comilança, os afortunados dormirão empanturrados de rabanadas, nozes, tortas, castanhas, passas, carnes, queijos e muito vinho. Por outro lado, os invisíveis, não terão, nem mesa, nem alimentos, muito menos dignidade. Irão dormir com o barulho dos fogos artificiais cortando o escuro céu noite adentro.
Talvez o Natal que eu tanto espero nunca existirá, mas tenho a crença que nunca morrerá a esperança de termos um país melhor, que ainda não tivemos.
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