Sempre defendo o direito ao sumiço, assim como defendo a presença. Nunca tive, e não tenho, a pretensão de justificar minha ausência, tampouco de fazer deste espaço um muro de lamentações. Aliás, “lamentações” é uma boa palavra para descrever minha vida nos últimos dois anos — e é sobre eles que quero falar.
Você, meu caro leitor, que há tantos anos me acompanha — seja pela minha vida pública, pessoal, pelas redes sociais, pelos canais de comunicação instantâneos ou até mesmo de forma presencial — tem ao menos uma ideia do que se passou nesse período. O começo foi quando mudei de cidade; passei a residir no Centro-Oeste do país. Esse foi o primeiro impacto: o clima, a geografia, o choque com a cultura regional.
Veio então uma sucessão de perdas em um intervalo curto demais. Primeiro, perdi meu pai — assim, de repente. Infartou numa segunda-feira, ao declinar do dia. Em pouco mais de um ano e meio, o câncer levou aquela a quem devo muito: amiga e professora, a saudosa Neiva Ormanes, que muitos de vocês conheceram.
Não muito depois, minha mãe foi diagnosticada com um câncer agressivo. Não havia tempo a perder. Fui, mais uma vez, apanhado de surpresa. Aquela foi a corrida mais louca da minha vida. Cada dia era como se uma bomba estivesse prestes a explodir. Uma angústia diária. Meses entre idas e vindas, cirurgias e recuperação. Mas minha mãe sobreviveu, e venceu sua sentença de morte naquele momento.
Pensei: agora volto a escrever. É a única coisa que me dá prazer, além das leituras. Preparei-me para retomar as atividades semanais nos jornais e revistas. Cheguei a assinar contrato e enviar uma ou duas crônicas. Contudo, não consegui manter a periodicidade.
2025 foi um ano cheio de caos, intrigas e emoções. Mais uma vez, tentei reassumir meu lugar de escriba. Mas o que me bloqueava agora era o desânimo. Por dois anos, tratei uma severa depressão. Lutei como um guerreiro para me manter vivo. E, nos primeiros meses deste ano, consegui abandonar os ansiolíticos e antidepressivos. Entrei para a academia, adotei práticas saudáveis, comecei a pedalar, mudei minha alimentação, criei um jardim, plantei uma horta, adotei bichos — quase uma vida de camponês, porém em meio ao barulho da cidade.
Achei que começaria um novo ciclo. E, quando estava prestes a fazê-lo, mais uma perda irreparável: perdi dois tios em um acidente fatídico. Foram mais três meses de luto. Ao contrário do que muitos dizem, nem sempre a desgraça é produtiva. Muitas vezes, ela paralisa. E eu fiquei assim, imobilizado por dentro, sem produzir nada.
Os antigos contam que, lá na Grécia, existia um pássaro que ninguém conseguia matar. Quando lançado ao fogo, ressurgia das cinzas. A boa notícia, meus caros amigos e leitores, é que sou quase essa ave mitológica: a fênix. Não me pergunte como, mas ressurgi dos escombros, do caos, da escassez, do fundo do poço.
Uma forma de sobrevivência foi me manter longe das redes sociais. Voltei, mas não como antes. Sei que parte dos meus leitores está lá, e não os abandonarei. Entretanto, por ter se tornado um ambiente caótico, competitivo e, mais do que isso, um insulto ao pensamento crítico e racional, prefiro manter certa distância.
Apesar de tudo, hoje começo uma nova fase da minha vida pessoal e profissional. Decidi voltar a escrever neste espaço — crônicas, contos, opiniões, entrevistas e o que mais couber nessa travessia.
Aos domingos, vocês terão algo a mais para esperar: minhas crônicas. Pretendo manter essa disciplina de trazer, a cada semana, uma crônica, um artigo ou um conto. Sinto que será uma boa troca entre mim e vocês — as histórias contadas, as opiniões, o afago que há muito espero.
De repente, sozinho e isolado no escritório, asseguro-me de que não estou tão só quando algum leitor, instalado em algum canto deste país, comenta o que escrevi. Descubro, então, que esta é a maior recompensa para quem compromete a vida com a arte de contar histórias. Quem compreende essa sina, essa urgência em narrar o mundo? Ninguém explica, mas ela se justifica quando diminui o grau da minha solidão e torna a vida mais grata e suportável.
