É bom de vez em quando dar aquela sumidinha básica para variar. Esses dias, eu estava lendo uma crônica da escritora Martha Medeiros, na qual ela falava sobre o direito ao sumiço. Lembrei que me perguntaram dias atrás por que eu andava tão sumido. Não sei qual foi minha resposta, talvez eu tenha dado uma desculpa qualquer. Confesso que fiquei intrigado por não achar a justificativa certa para o meu sumiço.
De uma coisa eu sei, sempre divago nesse devaneio entre lucidez e psicodélico. Por que sumi? Algo implorou para que eu sumisse. Sabe, talvez não seja exatamente isso. Sumi porque eu precisava de um tempo, precisava colocar meus pensamentos em ordem. E isso não é coisa de um dia, leva fase. Sumi porque falo disparate quando não deveria, porque às vezes me importo demais. Notoriamente, por vezes, enceno quase como se fosse num monólogo. Mas não se preocupe, o meu sumiço, ao contrário do que se pensa, não é silêncio: é resposta. Já fui de tentar, insistir, quis estar perto, mas chega uma hora que a gente cansa. Não tem jeito, a conta chega ao limite. Cansa chamar atenção. Cansa nunca ser convidado para nada, nunca receber um alerta no celular perguntando: “Como você está?”. Que fique claro, eu não alimento nada que não seja recíproco, já disse isso em outros textos. A regra é simples: se a gente quer alguma coisa, a gente vai atrás. É lei da vida, é assim que as coisas funcionam. Sumir faz parte da liberdade, pois ao sumir você não tem a obrigação de justificar o desaparecimento. Quem sente sua falta, procura você.
Sumi porque foi melhor para mim, para outros também, porque eu precisava me entender na minha desordem. Sumi porque eu precisava resgatar alguma coisa que estava aqui dentro meio perdido, algo que não sei explicar. Talvez, partes de mim. Sumi porque senti a falta de mim mesmo. Hoje não busco muito, busco somente coisas que me tragam humor, convicção e um pouco de harmonia. Algumas vezes, a gente encontra; outras vezes, não.
Acham que o sumiço me faz triste ou solitário? Não. Pelo contrário, reservado. Essa seria a palavra adequada. No meu sumiço, consegui achar graça em mim, rir das minhas bobagens, ser minha própria companhia. As pessoas não gostam de desprezo, ninguém gosta, mas ser invisível, às vezes, é necessário. Sumi e sumo de novo.
Vai depender se…
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