Kerley Carvalhedo

O fim da etiqueta

Ontem deparei com uma das maiores catástrofes da vida humana: a falta de educação. A cena foi a seguinte: quinze minutos de filme, e as pessoas não paravam de entrar na sala do cinema; mesmo sabendo do incômodo, o entra e sai continuou.

Ontem deparei com uma das maiores catástrofes da vida humana: a falta de educação. A cena foi a seguinte: quinze minutos de filme, e as pessoas não paravam de entrar na sala do cinema; mesmo sabendo do incômodo, o entra e sai continuou. Mais tarde ouvi um cochicho atrás de mim. Discretamente olhei para saber quem era o tagarela que resolveu colocar o papo em dia ali, na hora do filme. Não resisti. Educadamente me virei para o rapaz que estava na poltrona detrás e disse: “É sério que você vai ficar de papo nesse telefone?”

Não adiantou muita coisa: diminuiu o tom de voz, mas continuou pendurado no celular. Mudei de lugar, fui parar ao lado de dois adolescentes. Além das conversas, agora fui obrigado a escutar os estalos dos beijos. O bom senso e a boa educação caíram em desuso. Evito os incômodos e constrangimentos. Outro dia, fiquei em uma saia justa, já conto o porquê. Eu estava de saída para um compromisso marcado há semanas, quando um amigo chegou à minha casa. Educadamente pedi que voltasse depois, que no exato momento eu estava atrasadíssimo e não podia lhe dar atenção. Falei que poderia ter me avisado antes. Ele virou-se para mim, dizendo que nunca mais voltaria.

Coisas desse tipo mostram o quanto as pessoas perderam as boas maneiras, mais que isso; o bom senso mesmo. Pequenos detalhes fazem grandes diferenças. O bom convívio começa com pequenas regras. Ser elegante vai muito além de saber se vestir bem ou usar os talheres corretamente. A verdadeira elegância está na forma como você se porta diante das pessoas e em diversas ocasiões.

Não há elegância que resista à falta de bom senso. É claro que não precisa se comportar como se fizesse parte da família real. Mas ao menos evitar alguns incômodos. Sou adepto da boa compostura, da conversa simples e franca; olho no olho. Simpatia é fundamental e não lhe custará nada, nem fará de você pequeno ou vaidoso por ter gestos nobres.

Faz parte da nobreza o bom humor; a tolerância; gentileza; gratidão; afabilidade. Faz parte da deselegância; ser inconivente, meter em assuntos que não lhe diz respeito, chegar à casa das pessoas sem avisar, chamar no WhatsApp em horários inapropriados, não responder um bom dia, ir ao cinema e tirar a atenção de quem assiste, pedir emprestado e não devolver, é deselegante ser exibicionista, e a lista continua.

Etiqueta e bom senso nada mais são do que criar pequenas regras para o bom convívio. São sinais de civilização. Ser elegante ultrapassa o uso de Chanel, Calvin Klein, Prada. Para ser elegante, não basta um simples “bom-dia” ou um sorriso simpático. É mais que isto: respeitar o espaço do outro.

Imagem/Pexels