Kerley Carvalhedo

Abismo chamado tecnologia

É isso mesmo, vou falar outra vez da dependência tecnológica. Se você não suporta mais esse assunto, já pode virar a página. O assunto é o seguinte: Fiquei boquiaberto com o boicote ocorrido nas redes sociais por causa do bloqueio de um aplicativo de mensagens instantânea há uns dias.

É isso mesmo, vou falar outra vez da dependência tecnológica. Se você não suporta mais esse assunto, já pode virar a página. O assunto é o seguinte: Fiquei boquiaberto com o boicote ocorrido nas redes sociais por causa do bloqueio de um aplicativo de mensagens instantânea há uns dias. O burburinho foi tão intenso que houve até repercussão nas mídias jornalísticas. Continuei embasbacado de ver a quantidade de gente protestando por não conseguir ficar algumas horas sem mandar ou receber mensagens instantâneas.

Estava aqui me lembrando de um episódio: Dia desses fui à casa de um amigo e vi a cena que se tornou a mais célebre e comum por aí, mas que ainda me assusta. Estavam todos da família do meu amigo, sentados no sofá da sala, inclusive meu amigo, e nenhum deles conversava entre si, sem exceção, estavam com o celular na mão, concentradíssimos; alguém percebeu minha presença e pediu para eu me sentar junto a eles, claro que me sentei e observei por alguns minutos os rostos que pareciam talhados na madeira olhando para a tela do celular. Faziam caras e bocas, franziam a testa, riam como se estivessem num espetáculo de circo. Levantei-me e fui embora me perguntando: “Como pode uma família perder um momento tão raro hoje em dia”? O único barulho que se ouvia era o som dos teclados digitando. Sei que pareço ser careta, mas ainda prefiro o bom e velho papo entre família, essa coisa de olho no olho.

A tecnologia mudou a vida das pessoas para melhor, é claro. Por outro lado, perdeu-se um pouco a familiaridade humana. Ficamos reféns da tecnologia, deixando aquela deliciosa conversa entre amigos no final de tarde. Afinal, quem precisa de encontros na era digital? Basta um clic e rastreamos tudo sobre nossos amigos. Que amigo? Os digitais que fizemos. Só os analógicos sentem falta disso, os digitais, não. A verdade é que tornaram escravos do sistema tecnológico todos aqueles que têm medo de enfrentar a si mesmos, por amedrontamento se escondem atrás de uma tela. É mais fácil nos entretermos tanto com a tecnologia do que enfrentar nossos demônios internos. Amigos virtuais somam mais de cinco mil; na vida real, nenhum. A impressão que tenho é que às vezes estamos regredindo. Não se tem tempo para nada mais. Tudo é tão rápido, superficial e, mesmo assim, pessoas se afogam nas frivolidades das tecnologias baratas que tentam substituir o contato humano, mas que infelizmente não substituirá nunca. Nesse meio-tempo, vou tomar um chá, enquanto leio um livro.

Imagem/Pexels