Kerley Carvalhedo

A arte de procrastinar

Procrastinar é deixar para depois, em outras palavras é arte da enrolação. Procrastinar é um vício perigoso. Entrego o texto para o jornal às 16h. Às 15h05 abro a caixa de e-mail, depois no Facebook comento a foto de um ano de casamento do meu amigo. Bem sabe quem é estudante, no último minuto do segundo tempo.

Procrastinar é deixar para depois, em outras palavras é arte da enrolação. Procrastinar é um vício perigoso. Entrego o texto para o jornal às 16h. Às 15h05 abro a caixa de e-mail, depois no Facebook comento a foto de um ano de casamento do meu amigo. Bem sabe quem é estudante, no último minuto do segundo tempo.

Enquanto o Word em branco aguarda apenas a primeira frase, eu divago sem culpa pelo YouTube, buscando qualquer coisa que não tenha haver com o meu texto, como, por exemplo, o último desfile da semana de moda em Paris da Louis Vuitton com Johnny Deep; dueto de Tony Bennett e Amy Winehouseou: Body and Soul ou Maria Betânia cantando ao vivo Non Je ne Regrette Rien, de Edith Piaf.”

O meu amigo, Joel Pinheiro da Fonseca, colunista da Folha de S. Paulo procrastinou semanas para escrever um pequeno comentário para meu livro. Não duvido nada que Laurentino Gomes feito a mesma coisa durante a pesquisa de (1822). Sérgio Lazzarini deve ter embromado muito ao reler colunas para a Veja e Oscar Pilagallo, adiado uma dúzia de matéria não concluída na BBC de Londres. A procrastinação é filha do diabo, o ócio é a passagem direta para o fracasso.

Para fugir do Word em branco, tomo café, abro a gaveta, atendo ao telefone, mando uma mensagem de voz no grupo da família para parabenizar o hamister da minha prima, que está fazendo um ano e meio de vida. Olho o relógio, faltam cinquenta para entregar a matéria para o editor. Jogar bolinha de pingue- pongue é mais interessante que qualquer pilha de documentos protocolados em cima de sua mesa de trabalho na sexta-feira.

Há momentos que se confunde prioridade com procrastinarias, como buscar uma cerveja que está trincando no fundo do freezer, não necessariamente é procrastinar. Pechinchar pela 25 de Março, no período da tarde, não é procrastinar. Assim como aceitar o convite para transar numa manhã de segunda-feira no sofá, depois de levar as crianças à escola também não considero procrastinar, é ostentar. Agora, levantar do lugar para matar uma barata no canto do banheiro, porque sua mulher está aos berros, sem dúvidas é cúmulo da procrastinação.

Os brasileiros são procrastinadores. No Brasil, se procrastina sem dó e piedade, veja: o governo de quatro em quatro anos já virou expert quando se trata do assunto. Do Collor ao julgamento do ex-presidente Lula, pouco se fez, mas pelo menos saímos da inércia, rumo ao combate desse mal que contagia boa parte da sociedade.

Imagem/Pexels