Tempos atrás, escrevi uma coluna que polemizou. Eu falava sobre o desapego. Dias após a publicação, recebi vários e-mails de pessoas comentando sobre o assunto. De repente, em meio a todas aquelas histórias, li um e-mail de uma mulher que iniciava seu relato: “Ainda tenho o vestido floral e o broche que ela usava no dia em que foi embora.” Continuou: “Desde que ela nos deixou, nunca mais fui a mesma, porém tento manter sua presença entre nós todos os dias”.
Havia dezessete anos que ela perdera sua mãe, contudo não conseguia desapegar-se do sentimento da perda. À medida que o tempo passava, mais ela se apegava e sofria com a tentativa de materializar sua mãe nas coisas.
Por mais que dê um aperto no peito, é preciso abandonar a perda e ficar com a saudade. Saudade é o que nos move, que nos ajuda a seguir em frente. É preciso abandonar quem já foi e agora não é mais. É preciso abandonar amizades tóxicas, pensamentos medíocres. Pode ser a tal inveja branca também. É preciso sair de casa um pouco e ir até o boteco da esquina para jogar conversa fora. É preciso às vezes fugir dos conselhos sensatos sempre que for necessário. É preciso abandonar o fardo pesado que levamos desnecessariamente ao longo da vida. É preciso sentir-se só a fim de valorizar pequenas companhias. É preciso ser menos ranzinzo para ser feliz. É preciso abandonar o complexo de perfeição. É preciso deixar os seus mortos partirem e descansarem em paz. É preciso aprender a viver. É preciso deixar muitas coisas e pessoas para trás. Às vezes, é preciso fingir quem a gente é para sermos realmente quem somos de verdade. Não preciso de muita coisa palpável para ser feliz. Só preciso de muito amor e paz. É preciso repensar, iniciar e viver sem esse apego que nos estagna antes do tempo.
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