Kerley Carvalhedo

Os novos Sigmund Freud

Tem dias que não queremos nada além de um alguém para desabafar. Tem dias que não queríamos nem ter existido. Sabe aqueles dias em que não deveríamos ter saído da cama?

Tem dias que não queremos nada além de um alguém para desabafar. Tem dias que não queríamos nem ter existido. Sabe aqueles dias em que não deveríamos ter saído da cama? Aqueles momentos em que desejamos sumir ou aquelas situações em que nos encontramos aparentemente sem saída, sem respiração, coração saltando pela boca? Quando esses instantes chegam, a única coisa que queremos é ter alguém para dividir a nossa dor e um lugar para nos distrairmos.

O difícil mesmo é fazermos uma visita com o psicólogo ou analista. Na maioria das vezes, nem precisamos disso. Os novos Freud e divãs estão por aí. Pode ser em qualquer lugar sua análise, basta ter um Freud por perto. Há quem diga que não existam pessoas como Freud. Mas o próprio Freud disse: “A ciência moderna ainda não produziu um medicamento tranquilizador tão eficaz como o são umas poucas palavras boas”. Os novos Freud estão na mesa de um bar. Num chá à tarde em casa, num domingo, sentado como um amigo. Pode ser num café também.

Seu Freud pode ser seu cabelereiro. Pode ser aquela sua velha amiga da faculdade, que você só vê de segunda a sexta-feira para ouvir você. Seu Freud pode ser sua mãe ou sua vó que, aliás, elas são excelentes baús para esconder seus dramas e são ótimos confessionários.

Seu Freud pode estar naquela ligação do outro lado da linha te ouvindo. Pode estar nas salas de bate-papos virtuais. Seu Freud pode estar em qualquer lugar. E, no final, é só isto que queremos: alguém que nos ouça sem criticar, que não nos ignore quando mais precisamos. Que não nos diga apenas: “Isso vai passar”. Mas que diga: “A coisa tá feia. Mas vamos resolver isso”. Não queremos ser apenas olhado sem ser visto. Falar sem ser entendido. Ser jugado sem ser compreendido. Tocados sem sermos sentidos.

Não há solidão pior que querer dividir esses momentos com alguém e não ter, e são nesses instantes que nos sentimos cada vez mais sós. Queremos um Freud que não abandone a conversa mesmo quando não tiver assunto para continuar. Um Freud que faça questão de sentar ao nosso lado. Um Freud que não nega um abraço. Um Freud que sempre encontra um espaço e tempo para nos ouvir sempre que estivermos precisando. Pode ser num banco de alguma praça mesmo. Não precisamos deitar num divã para isso. Queremos um Freud que tenha paciência de ouvir e entender o que até nós mesmos não compreendemos. Um Freud que saiba esconder nossos desejos e segredos mais íntimos. Precisamos de um Freud que não desapareça. Um Freud que diga: “Conte comigo! Vamos sair dessa!”

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